enterado estou

enterado estou
de que não posso alterar a ordem dos acontecimentos
que a metafísica em esteves não tem cabida

enterado estou
da metarmofose da larva
dos arreboles de cebola no solpor de Junho
da tua ruptura
da distância dos continentes
e da terra a respeito do sol ou a respeito da lua

enterado estou
de que os cabos despidos provocam descarga
da massa alienada arrastando mais massa alienada
de que as drogas convertem-se em alimento
e os alimentos convertem-se em adicción

enterado estou
do ar que filtro sobrevivendo
do movimento do sonido do destino deste vagão
e do custo do combustível
e da fruta carísima
insubstancial e perfeita à vez

enterado estou
da fome da infamia da violação
da corrupção e sumisión
da esclavitude de crianças em minas de grava
dos direitos e deveres
da contaminação do meu rio sem vida
e dos mares rias montes selvas cidades
da celeridade da rutina
da carência das conversas
do reflexo dos espelhos

enterado estou
do grau de álcool máximo que aceito
dos escassos sonhos que recordo
de que existe uma classe de pessoas que chamam-se políticos

e não quero falar do poder
do que também estou enterado

sim

enterado estou
da falsa condolencia nos enterros
dos abusos aos trabalhadores
da pasividade sindical
do espírito de luta mudança revolta
da combustión espontánea do progresso

não há mais que assomar-se pra contemplá-lo
ideal espectáculo

4 comentarios:

albagal disse...

Cantas verdades nun só poema!

Que pasada, xa sabes, manda eso a Dorna.

Unha aperta :)

Raposo disse...

As veces é mellor non saber moitas cousas deste mundo tan imperfecto. Gostei do poema.

mariademallou disse...

recomendo a túa lectura e póñoche de exemplo nos talleres de literatura que dou:)

LM disse...

como se pode dizer tanto em tam pouco?beijos